segunda-feira, 24 de abril de 2023

O Sal da Terra

Assisti novamente o documentário "O Sal da Terra", que conta a epopeia do renomado fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado que, após viajar pelos mais diferentes pontos do planeta, mostra as mazelas humanas e como o ser humano é algo repugnável, não tendo qualquer dúvida em matar seu semelhante da pior forma possível para manter seu poder. 

Na medida em que lentamente passam diante dos olhos do espectador imagens daquilo que parece um “formigueiro humano”, com milhares de pessoas subindo e descendo por um terreno com ângulo de praticamente noventa graus, o fotógrafo narra: “Vi passar diante de mim, numa fração de segundo, a história da humanidade. A história da construção das pirâmides, a Torre de Babel, as minas do Rei Salomão. (…) Eu tinha regressado ao início dos tempos”.

O clima impactante do início permanece até o fim do filme dirigido pelo cineasta alemão Wim Wenders e pelo filho do fotógrafo, Juliano Ribeiro Salgado. A narração do biografado é constante. Ela é complementada com imagens sobre a vida do profissional no momento em que o documentário foi gravado e, claro, com inúmeros registros fotográficos feitos por ele em suas várias andanças ao redor do mundo. Essas muitas fotografias retratam temas envolvendo exclusão social (incluindo populações latinas e africanas pouco conhecidas, trabalhadores e refugiados), além de imagens que chamam a atenção para a necessidade de preservação ambiental.

Em alguns momentos, o documentário abre espaço para a metalinguagem, com o biografado lançando sua lente para a equipe de produção do filme. As fotografias que resultam dessa ação foram selecionadas durante o processo de montagem.

O Sal da Terra é material indispensável para todos os interessados em ter, em pouco menos de duas horas, um vasto panorama sobre quem foi Sebastião Salgado e conhecer (ou rever) parte de seu imenso acervo de marcantes imagens em preto e branco. O ritmo é lento, mas completamente coerente com a proposta de contemplação e reflexão lançada pela dupla que assina a direção.

Contemplação, reflexão e o caráter marcante desses recortes da realidade congelados em preto e branco que são as fotografias de Sebastião Salgado. Esse tripé, facilmente aplicado ao documentário, deixa claro que O Sal da Terra foi produzido não só para prestar uma homenagem a seu personagem principal. A produção nasceu, também, para destacar tanto a função social da fotografia quanto o papel de impacto que a arte pode ter na sociedade.

Há situações dramáticas em que Sebastião Salgado demonstra que a humanidade não tem salvação, de acordo com suas próprias palavras. É o caso de sua cobertura da guerra civil em Ruanda aonde morreram aproximadamente 500 mil pessoas - ou até mais - em um verdadeiro genocídio. São cenas impactantes quando pessoas fogem de uma terra para sobreviverem e não há nenhuma solução a não ser esperar a própria morte. Algo impactante quando Sebastião Salgado nos relata que quando deixou de fazer a cobertura da guerra civil em Ruanda, estava doente. Não acometido por um vírus infeccioso, mas, doente da alma após ver cenas tão impactantes. Ele mesmo confessa que por várias vezes deixou a sua câmera fotográfica e chorou copiosamente.

Há outros países africanos onde Salgado esteve e mostrou, através de suas lentes, como a vida humana não vale nada. Pessoas sendo mortas e morrendo da forma mais brutal possível. Ele nos mostra também a beleza dos animais em diferentes partes do mundo. E, finaliza, de forma belíssima reconstruindo a floresta que havia na fazendo de sua família no Estado de Minas Gerais.

O documentário "O Sal da Terra" é uma forma de protestar contra os desvarios da humanidade. Infelizmente, a história da humanidade é feita de conflitos e muito sangue. É inacreditável que Deus nos criou a sua semelhança e o legado é tanta destruição, violência e mortes.