terça-feira, 1 de março de 2016

Uma Polícia Federal sem controle


A queda do mais inepto ministro da Justiça da República, José Eduardo Cardozo, mostra um legado terrível para o Brasil. O país tem uma polícia Federal que se transformou em uma polícia política, sem controle que persegue um grupo político, no caso, o PT, e fecha os olhos para a roubalheira denunciada envolvendo amplos setores do PSDB e outros setores conservadores da sociedade. A PF se transformou em uma polícia própria de uma ditadura em uma democracia. 
A PF escondeu o nome do senador José Serra (PSDB-SP), que constava no relatório da perícia do celular do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso na Operação Lava Jato. Em compensação, age abertamente contra figuras de governos petistas. Na eleição de 2014, integrantes do órgão criaram no Facebook uma página, onde fizeram campanha veemente contra a presidente Dilma Rousseff, inclusive com manifestações de ódio ao PT. 
O advogado criminalista Patrick Mariano disse recentemente que a "PF se tornou um aparato estatal poderoso, seletivo, ideologicamente, que desrespeita direitos individuais". E ele diz com todas as letras que "a autonomia absoluta, total, da PF foi o canto de sereia pelo qual o projeto petista se deixou levar". E diz que "a PF é um Departamento do Ministério da Justiça e como tal deve ser tratada e gerida. No governo Lula se criou essa ideia de autonomia, só que na época havia um controle maior do que hoje". 
A PF hoje não tem qualquer controle da sociedade civil, e no ritmo atual de ilegalidades e arbitrariedades, o órgão caminha para ser uma nova Pide - a Polícia Política Portuguesa - ou simplesmente ingovernável. 
Atualmente, assistimos ao vazamento seletivo das delações premiadas feitas em segredo de Justiça e à colocação de grampos em celas da Polícia Federal, onde estão presos pessoas acusadas na Lava Jato. É impressão ou se está passando por cima de garantias constitucionais como na ditadura? 
Assim como o "mensalão" - uma farsa tão evidente que no futuro deixará os pesquisadores alarmados, tal a facilidade de detectá-la - a "Lava Jato" se apoia em dados tão frágeis do que a convicção de um cínico. 
O ponto de partida de suas diatribes são declarações de ex-funcionários corruptos da Petrobras dando conta da formação de um cartel de empreiteiras para participar de contratos da empresa - prática, aliás, contumaz e que atingiu não só a Petrobrás (o metrô de São Paulo é outro exemplo, para citar um caso de dimensões semelhantes ao da Petrobrás). 
Na investida sobre as empreiteiras, com métodos criminosamente coercitivos, o juiz Moro conseguiu, em suas delações premiadas forçadas por prisões em escala, apenas confissões de que o dinheiro não saiu da Petrobrás, mas dos lucros dos contratos obtidos pelo cartel. Não há, em todas as delações, nenhuma afirmação de que o dinheiro saiu da estatal ilegalmente. Desse lucro, uma parte foi para doações aos partidos políticos, sendo que o único perseguido, o Partido dos Trabalhadores (PT), foi, entre os grandes, o que menos recebeu recursos dessa fonte. 
Como todos os partidos tiveram suas contas aprovadas pela Justiça Eleitoral, o que resta são ilações, suposições e acusações infundadas. Ninguém da "Lava Jato" se deu ao trabalho de pedir uma auditoria nas contas desses partidos para rastrear as alegadas ilegalidades. Tudo simples, tudo fácil de compreender. Mas a mídia bateu tanto nessa farsa comandada por Moro que a população em geral não tem a menor ideia do que realmente vem acontecendo. E foi na esteira dessa "desinformação organizada", como dizia Umberto Eco, que o juiz do Paraná decidiu dar seu passo mais ousado, ligando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva às tais empreiteiras. Moro age com a missão de fazer a caça entrar na mira dos atiradores - nesse caso Lula e a mídia. 
Foi assim que Moro montou em Curitiba a sua versão da "República do Galeão", como ficou conhecida a Base Aérea do Galeão, no Rio de Janeiro, quando lá foi montado, em agosto de 1954, um aparato da Aeronáutica para interrogar suspeitos no atentado da rua Tonelero, que feriu o udenista e golpista Carlos Lacerda e matou o major da Força Aérea Brasileira (FAB), Rubens Vaz. Os interrogatórios transcorriam em meio à crise do governo e às acusações de corrupção e aumentavam a pressão sobre o presidente Getúlio Vargas, que resultou em seu suicídio. 
A mídia conseguiu destilar tanto veneno contra Lula que boa parte da população começa a acreditar em suas parolas. É o ódio gratuito, com tantas vezes grassou na  história brasileira. Ódio ao povo, aos de baixo, aos negros e índios que tentam entrar no clube do poder. Lula é um expoente típico desse povo. Nem no sítio ele pode pisar; os caçadores estão sempre de arma em punho para completar os serviços do juiz de Curitiba. 
O problema é que a tendência humana é a de acreditar muito mais do que se vê do que no que se lê - ou se ouve. Dai a repetição e a renovação da roupagem das "denúncias" numa velocidade estonteante. Para encobrir a realidade, quanto mais manchetes funéreas, melhor. Investigar é bem diferente deste encontro do estardalhaço com a inutilidade, uma patifaria que já entrou para o folclore como símbolo da vigarice que norteia a mídia brasileira. 

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