segunda-feira, 6 de outubro de 2014

São Paulo, capitania hereditária do PSDB


Realmente, São Paulo se transformou em uma capitania hereditária do PSDB. É um pedaço de terra que passa de um para outro, a exemplo do que aconteceu com o Brasil quando os portugueses chegaram aqui. Ninguém mexia. Era quase eterno. O fato do PSDB estar há mais de duas décadas no poder no Estado de São Paulo tem duas explicações que estudiosos do assunto já cansaram de explicar: o conservadorismo do povo paulista, que é despolitizado pela grande mídia sobre o que acontece aqui, e também pelo fato desta mesma grande mídia simplesmente esconder as falcatruas dos tucanos. 
Diante disso, é possível dizer que o PSDB tem uma monarquia hereditária, mais semelhante a uma ditadura. É difícil explicar a pessoa comum como um governador obtém seu quarto mandato em meio a racionamento de água, denúncias de corrupção e problemas sérios na gestão pública, como a perda de qualidade do metrô paulistano, alvo de denúncias de formação de cartel e pagamento de propina a políticos do PSDB, conforme denúncia do Ministério Público - daqui e da Suiça. 
O que chega a estarrecer é que no passado, por esta mesma época, milhares de jovens saíram às ruas de São Paulo pedindo mais saúde e educação. Se você pede mais saúde e mais educação, considera que são direitos sociais e que têm de ser garantidos pelo Estado. E aí você reelege Alckmin. O que se tenta entender como é possível você reivindicar aquilo que é negado por quem você reelege. 
O PSDB trata políticas públicas não como direitos, mas como um produto que a população deve ter recursos financeiros para adquirir. Nesse sentido, há também u ma parcela da sociedade paulista que enxerga os avanços que teve ao longo de 12 anos de governo federal do PT não como uma melhoria do papel do Estado, mas como um mérito individual. Não há nenhuma articulação entre a mudança de trabalhador manual para trabalhador de serviços e as mudanças sociais no país. É visto como uma ideologia de classe média, que é a do esforço individual. 
Entretanto, há outro componente. É cedo ainda para avaliar a relação entre o saldo final das manifestações de junho e o alto número de abstenções e de votos brancos e nulos - 19,39% se abstiveram, 3,84% votaram em branco e 5,80% em nulo. O crescimento de Aécio Neves na reta final da corrida presidencial e diminuição da representação dos trabalhadores no Congresso, tem um claro reflexo do trabalho feito pela mídia tradicional pela despolitização da sociedade. 
É importante ressaltar que mais têm acontecido no país é um processo realizado pela grande mídia , tanto impressa como falada como televisa, e sobretudo nos últimos quatro anos, de esvaziamento sistemático de toda e qualquer discussão política. Você tem a operação da comunicação por slogan e algumas imagens. Eu diria que os partidos políticos são responsáveis também pela ausência de um grande debate político. Ou porque não têm o que propor, ou porque não querem entrar neste debate.

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