quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Juiz? Não, réu

Louco para aparecer na imprensa, como é o caso também do atual presidente do STF, Joaquim Barbosa, o ministro Gilmar Mendes não perdeu a chance de dar declarações estapafúrdias que fogem da responsabilidade do seu cargo. As doações dos militantes petistas para que fossem pagas as absurdas multas aplicadas pelo atual presidente do STF levaram o ministro Mendes, que alguns blogueiros chamam de "Gilmar Dantas", em função de sua ligação com o banqueiro Daniel Dantas, que apanhado com a boca na botija tentando subornar o delegado Protógenes Queiroz, foi preso, e o ministro lhe concedeu, como por milagre, dois Habeas Corpus em 24 horas. 
A questão é a seguinte: comprovadas as doações dos militantes petistas, o que acontecerá com declarações levianas de um ministro do STF? Pelo cargo que ocupa, deveria sofrer um processo de impeachment. O presidente do diretório nacional do PT, Rui Falcão, entrou nesta quinta-feira, 6, com uma interpelação judicial para que confirme ou não suas declarações. Caso confirme, terá que comprovar que foi dinheiro utilizado de forma irregular. 
A revista "Carta Capital", de agosto de 2012, denunciou que o nome do ministro Gilmar Mendes aparece em u ma extensa lista de beneficiários do caixa 2 da campanha do Mensalão Mineiro. É por isso é que o Mensalão do PSDB não anda no STF. Há um abismo entre a sensibilidade oficial e a paralela. Eduardo Azeredo, candidato à reeleição ao governo de Minas, em 1998, declarou à época  ter gasto R$ 8 milhões. Na documentação assinada e registrada em cartório, o valor chega a R$ 104, 3 milhões. O ministro Gilmar Mendes teria recebido R$ 185 mil. 
A lista está metodicamente organizada. Sob o enunciado "Relatório de movimentação financeira da campanha da reeleição do governador Eduardo Azeredo", são perfilados em ordem alfabética doadores da campanha e os beneficiários dos recursos. São quase 30 páginas, escoradas em cerca de 20 comprovantes de depósitos que confirmam boa parte da movimentação financeira. Os repasses foram feitos por meio do Banco de Crédito Nacional (BCN) e do Banco Rural, cujos dirigentes são réus do que chamam de "mensalão petista". 
Esse pacote de documentos foi entregue no dia 26 de agosto de 2012 na delegacia da Polícia Federal em Minas Gerais. Além de Mendes, entre doadores e receptores, aparecem algumas das maiores empresas do país, governadores, deputados, senadores, prefeitos  o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A papelada desnuda o inalcançado pela Justiça. Há registro de doações de prefeituras, estatais e outros órgãos públicos impedidos por lei de irrigar disputas políticas. Entretanto, o inquérito não anda. 
Os pagamentos foram feitos pela SMP&B Comunicações, empresa de Marcos Valério. Todas as páginas são rubricadas pelo empresário mineiro, com assinatura reconhecida em cartório no final do documento datado de 28 de março de 1999. Há ainda declarações assinada por Marcos Valério de 12 de setembro de 2007 e apresentada à Justiça de Minas Gerais. Marcos Valério informa um repasse de R$ 4,5 milhões a Azeredo. O documento de apresentação assinado pelo publicitário afirma que o depósito milionário a favor de Azeredo foi feito "com autorização" dos coordenadores financeiros da campanha tucana  - Claudio Roberto Mourão e Walfrido dos Santos Guia, o mesmo que se safou da cadeia porque completou 70 anos em janeiro deste ano, após o processo mofar nas gavetas do STF por mais de 15 anos. 
O documento entregue à Polícia Federal lista um total de 13 governadores e ex-governadores beneficiários do esquema, dos quais sete são do PSDB, quatro do ex-PFL e dois do PMDB. Além disso, este dinheiro irrigou a campanha de reeleição de Fernando Henrique Cardoso que na época teria levado R$ 2,8 milhões. 
Este caso é tenebroso porque envolve um componente ainda mais misterioso. A modelo Cristiana Aparecida Ferreira foi assassinada por envenenamento seguido de estrangulamento em um flat de Belo Horizonte, em agosto de 2000. Filha de um funcionário aposentado da Cemig, Cristiana, de 24 anos, tinha ligações com diversos políticos mineiros. Investigadores chegaram a conclusão que sua principal ocupação na época era entregar malas de dinheiro do valerioduto mineiro. E todos acreditam que sua morte foi queima de arquivo porque ela sabia de tudo sobre o esquema conhecido como mensalão mineiro. E tudo com o conhecimento do ministro Gilmar Mendes. Então, este senhor não é juiz, e sim réu. 

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