segunda-feira, 12 de maio de 2014

Exercício do ódio

A ótima jornalista Laura Capriglione, que por muitos anos trabalhou na "Folha de S. Paulo", exercendo, inclusive, o cargo de ombudsman do jornal, escreveu um maravilhoso artigo em seu blog comentando o absurdo linchamento da qual foi vítima a dona de casa Fabiane Maria de Jesus, esposa e mãe de dois filhos ocorrido na cidade de Guarujá. Ela foi vítima de um ato cruel e desumano de linchamento em via pública, o que levou à sua morte. Na verdade, Fabiane foi vítima de "Justiça Popular", tão exaltada na Internet sob os gritos de "Bandido bom é bandido morto". Isso é apenas o exercício monstruoso do ódio que vem sendo propagado por setores conservadores brasileiros, incitados principalmente por jornalistas policiais como José Luiz Datena e Marcelo Resende; deputados ultraconservadores e pastores evangélicos que pregam a segregação contra minorias, principalmente homossexuais. 
O resultado de tamanha loucura é este pensamento conservador e reacionário que vem atingindo amplos setores da sociedade brasileira. Este ódio atinge principalmente os setores pobres e desprotegidos da sociedade. Eles propagam violências como a policial da qual são vítimas jovens pobres e negros. Propagam a ideia de que se deve diminuir a maioridade penal com o objetivo de enviar para a cadeia meninos e meninas como forma de resolver problemas de violência. Estes mesmos que propagam este ódio não cobram dos governos investimentos em políticas públicas para que estes jovens possam usufruir de um futuro melhor. É mais fácil espalhar o ódio. 
Segundo o professor José de Souza Martins, em seu livro "As condições do Estudo Sociológico dos Linchamentos no Brasil", de 1995, "o linchamento não é uma manifestação de desordem, mas de questionamento da desordem. Ao mesmo tempo, é questionamento do poder e das instituições que, justamente em nome da impessoalidade da lei, deveriam assegurar a manutenção dos valores e dos códigos". E não asseguram. 
Pôr a culpa na página "Guarujá Alerta", por isso, é tão simplista quanto atribuir a Rachel Sheherazade o condão de transformar meninos da juventude dourada da zona sul do Rio em assassinos potenciais. "Guarujá Alerta" e Sheherazade tem sua parcela de responsabilidade, mas o problema é bem mais profundo. 
Diz respeito à barbárie que surge quando a descrença nas polícias e na Justiça se combina com o medo de que os valores mais tradicionais da família, da Igreja e da vizinhança naufraguem no caos e na desordem. 
O trágico é que poucos estariam tão revoltados com o linchamento de Fabiane se ela fosse ao menos "culpada" de alguma coisa, como aconteceu com o menino negro amarrado a um poste em plena praia do Flamengo, no Rio - depois de tanto escarafuncharem a vida do moleque, encontraram várias passagens pela Febem, como se isso justificasse o tratamento digno de capitães do mato. 
Mas a inocência de Fabiane, mãe, fragilizada psicologicamente pela depressão, católica, amiga da prefeita de Guarujá, Maria Antonieta de Brito (PMDB), provou que essa tal "justiça popular", tão exaltada na Internet sob os gritos de "Bandido bom é bandido morto", é apenas o exercício monstruosa do ódio. Para Fabiane, é tarde demais para desculpas e arrependimentos. 

Um comentário:

  1. Caro jornalista Sérgio Vieira, na minha opinião, simplista é atribuir ao Datena e ao retardado do Marcelo Resende, aquele que acha que é bonito ridicularizar ao vivo o seu colega comentarista de segurança da Record, e ainda pior, atribuir a pastores ultraconservadores que pregam a segregação homossexual a situação caótica em que vivemos é uma barbárie.
    A complacência com todos os tipos de crimes, sejam eles praticados por menores ou maiores de idade é a principal causa da morte da esperança do brasileiro trabalhador e pacífico. A falta de vergonha dos deputados e senadores que voraram as benesses para bandidos assassinos e assalteadores dos cofres da nação tambem contribui para a derrocada final. Quem viver verá as desgraças que o país terá de agora em diante.

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